8 de janeiro de 2013

EM FAMÍLIA


Em nome do Deus de todos os nomes:


Yaveh, Obatalá, Olorum, Allah e Tupã
Em nome do Deus, que a todos os homens nos faz da ternura e do pó.
Em nome do pai, que faz toda a carne, a branca e a preta vermelhas no sangue.
Em nome do Filho, Jesus nosso irmão, que nasceu moreno da raça de Abrãao.
Em nome do Espírito Santo, bandeira do canto do negro folião.
Em nome do Deus verdadeiro que amou-nos primeiro sem dividição.


Invocamos para essa jornada, a presença amiga dos Santos, das Testemunhas, 
dos Militantes, dos Artistas, e de todos os construtores anônimos da 
Esperança Afro-brasileira: Zumbi dos Palmares, Patriarca-Mártir de todos 
os quilombos de ontem, de hoje e de amanhã.

Dragão do Mar, Francisco José do Nascimento, João Cândido, que a chibata 
não dobrou, Pedro Ivo, sombra dos Praeiros pernambucanos, Angelim dos Cabanos, 
madeira da Resistência, isidoro Mártir e todos os rebeldes do Povo, na Terra e no Mar.
José do Patrocício, Luís Gama e todos os pregoeiros da Libertação.
Haussás, Nagôs, Alfaiates da Negra Bahia e todos os grupos 
e movimentos negros que reivindicam o futuro.


Arturo Alfonso Schoemburg, memória do "Povo sem História", 
voz libertária do Caribe. Lumumba, tambor-tempestade da África levantada.
Chimpa-Vita, Beatriz do Congo, bandeira em chamas das negras-coragem 
e todas mães pretas, como Ambrosina, arrancadas da pedra morta para as 
lutas da vida! E todas as Marlys das baixadas desmascarando o rosto dos 
assassinos, e todas as anõnimas heróicas comadres negras, eixo fecundo 
da sobrevivência da raça.


Negrinho do Pastoreio, anjo dos vaqueiros das reses perdidas e todos os 
guias negros das causas do povo, que tem no Saci-pererê a sua representação...
Crianças de Soweto e de Atlanta,meninos anõnimos das candelárias brasileiras, 
Pixotes massacrados pela prepotência racial, colheita prematura da Juventude negra.
Santeiro Aleijadinho, entalhador dos Santos do povo. Luis José da Cunha, 
filho dos mocambos, brasa viva ardendo na carne dos esquecidos.


Louis Armstrong, Billie Holiday, Jimmy Hendrix e todos os metais e todas as cordas 
e todos os Negros Spirituals da América Negra. Almícar Cabral, pai educador da Liberdade Africana.
James Meredith, paixão matinal e todos os estudantes dos Campus e das ruas que marchais abrindo História.

Solano Trindade e todos os poetas da madeira, da palavra e da alma negra nunca embranquecida.

Santo Dias, companheiro, suor e sangue da periferia, mártir na cruz das 
empresas e todos os retirantes, lavradores, bóias-frias e operários, construtores 
do Sindicato Livre e da Comunidade Fraterna.

Santos Reis, Magos dos presentes da terra e do culto, peregrinos incansáveis á luz da estrela, atrás do menino.
São Benedito, irmão acolhedor dos pedidos dos pobres.
Santo Agostinho, mente e coração da África Mãe.
São Martinho de Lima, porteiro solicíto da América Negra.
Santa Ifigênia, discípula do Apóstolo e congregadora das Virgens.
São Pedro Claver, escravo fraterno dos escravos negros.
São Gonçalo de Amarante, peregrino e evangelizador dos pobres.
Santo António de Catingerò, Guardião do Rosário dos Pretos.
São Cosme e Damião, curadores do povo sofredor.
Nossa Senhora Aparecida, Mãe negra do Brasil.
Pai Jõao de Enoch e todo o povo de Arunda
Santo Onofre, anacoreta da longa solidão.
Carlos Lwanga e companheiros mártires de Uganda.


Martin Luther King, pastor na vida e na morte, voz permanente da marcha da libertação 
e todos os mártires da Paz perseguida.


Clementina de Jesus, Jovelina Peróla Negra, Pixinguinha, Lupicinio Rodrigues, Cartola, 
Martinho da Vila, Milton Nascimento  e todas as negras vozes que acalantam as diversas 
tribos dese continente chamado Brasil.

Maria Escolástica da Conceição Nazareth, Mãe Meninha do Gantois, Venerável Yalorixá, 
Sacerdotisa e guardiã dos Mistérios Africanos!


Ogum, Senhor dos Caminhos e da inovação Oxóssi, Princípe de Ketu e Oxalá, Senhor da Vida e da Morte!
Senhora das Águas Primordias, Yemanjá e todas as Ayabás! Agô...



Fabiano Melo